Matilde Campilho, autora lisboeta, viajou connosco até ao Algarve para nos contar aquilo que viu e sentiu.
Nascida em Lisboa em 1982, Matilde Campilho é autora de dois livros.
Jóquei, um livro de poemas e Flecha, um livro de histórias. Teve poemas e outros textos publicados em diversos jornais e revistas, entre eles “Granta”, “Berlin Quarterly”, “The Common”, “Público” , “O Globo” ou “Folha de São Paulo”. Vive e trabalha em Lisboa, onde é locutora e co-autora de um programa de rádio na Antena 3.
Repara-se primeiro no calor.
No Mercado de Lagos as palavras saltam no ar e dão piruetas. São gritos, são sussurros, são sinais por entre os dentes. É um dialeto de mercado, sustentando por uma orquestra feita de vários sons: o som do escamar de um peixe grande; o som das moedas na caixa; o som dos pés arrastados dos turistas e o som dos pés rigorosos da peixeira. O som do peixe a ser atirado à tábua; o som do partir da cabeça de um peixe com um facão, como se o peixe fosse um coco a ser partido nos trópicos. O som das tripas do peixe sendo retiradas e deitadas ao lixo. Depois deste gesto, existe uma suspensão. Fermata, diria o maestro. O som seguinte quase não tem som: é quando o que resta do peixe é lavado com respeito, como se o peixe estivesse a ser penteado e perfumado para ir dormir.
É um promontório. No seu vértice existe uma construção branca que até hoje levanta discussões sobre aquilo que já foi: castelo, forte, igreja, tudo.